Onde há gente, há relacionamento e, constantemente, conflito. Os conflitos fazem parte da natureza das relações, sejam eles amorosos, profissionais ou familiares.
Temos a tendência de pensar o conflito como algo exclusivamente negativo, mas a psicologia sabe que, muitas vezes, o embate é necessário nas relações para que surjam novas possibilidades de ajustamento. É uma oportunidade para a pessoa parar, repensar e se dispor a encontrar formas mais criativas e satisfatórias de convivência, e assim as relações amadurecem.
Muitas pessoas, porém, ao se verem em um embate escolhem um caminho diferente, optam precocemente pelo afastamento ou rompimento das suas relações, como uma forma de resolver a questão angustiante e incômoda. Isso pode ser uma possibilidade, mas vejo que um dos motivos das pessoas desistirem antes da hora é simplesmente por não entenderem o outro, e principalmente, a si mesmos.
Essa dificuldade de compreensão está relacionado, entre outras coisas, a uma não percepção do espaço de importância que o outro ocupa nas suas relações, a esse espaço podemos dar o nome: território de atuação.
O território de atuação é um dos aspectos mais valiosos para nós e, muitas vezes, não nos damos conta. É o lugar que construímos psiquicamente e imaginamos sermos valorizados, amados e respeitados por isso.
Conseguir ler ou não o território demarcado exige uma boa observação e reflexão, pois não há nenhuma linha definida que nos mostre claramente isso, porém percebê-lo e respeitá-lo podem evitar embates desnecessários ou melhorar a qualidade deles.
Como assim ler o território?
Tanto os animais quanto os seres humanos necessitam demarcar seu território, além do geográfico, homens e mulheres constroem simbolicamente territórios de existência e atuação. Ali determinam o seu lugar de poder e conforto e qualquer ameaça ou invasão gera o conflito, muitas vezes estamos reagindo e protegendo o nosso território, ou ameaçando o território do outro, e não percebemos.
Por exemplo, quem nunca viu um funcionário novo ser boicotado por um colega de trabalho. É natural que o novo chegue com energia e novas ideias e isso pode representar uma ameaça para quem já está há mais tempo na função e já tem estabelecido seu território de atuação.
Na família, a nova namorada do pai pode representar uma ameaça para a filha. A atenção do pai para a mulher estranha pode estar invadindo o território já estabelecido entre pai e filha. A angústia de ser esquecida pelo pai cresce e os conflitos surgem através do ciúmes e dos comportamentos da filha para conseguir mais atenção.
O ser humano quando se sente ameaçado pode ter reações extremas, atacar, se descontrolar, se afastar, se fragilizar.
Como identificar os territórios de atuação?
O primeiro passo é observar e escutar. Quando observamos atentamente identificamos os territórios. As reações exageradas, tanto na fala quanto no comportamento, podem ser sinais de que alguém está reagindo a uma ameaça, mesmo que imaginária.
E o mais importante é nos incluirmos nesse processo, percebendo e identificando os nossos próprios territórios, quando nos sentimos ameaçados e estamos reagindo a isso.
Ter essa percepção é importante pois quando nos deparamos com uma reação violenta do outro ao invés de nos magoarmos ou internalizarmos a culpa, podemos considerar essa possibilidade, que o motivo da reação é a insegurança. Assim ampliamos a visão em relação ao contexto e buscamos novos caminhos que fortaleçam os laços afetivos ou profissionais ao invés de ameaçá-los. Quando nos sentimos seguros, não precisamos reagir, podemos desarmar as defesas e permitir que as relações se desenvolvam e amadureçam.
Leia também: Por trás dos relacionamentos saudáveis.*Marcela Pimenta Pavan, psicóloga clínica, CRP 05/41841. Atendimento: pelo site acaminhodamudança e consultório no Largo do Machado – R.JContatos: marcelapimentapavan@gmail.comEscrito por Marcela Pimenta Pavan todos os direitos reservados
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